quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Miséria de um lugar chamado Brasil

Dia chuvoso, garoa fina e gelada
Uma mulher aparentemente com 40 anos
Em pé envolta em um cobertor azul
Ao lado o companheiro inseparável
Um amável cachorro.
Estavam na mesma situação.
Ao redor, muito papel espalhado
Comida remexida no chão
Provavelmente do dia anterior
Que alguém fez a caridade de doar.
Uma cena deplorável da miséria humana.
Um olhar perdido no horizonte
Pedindo ajuda, pedindo socorro !!!
Notável era sua mente contundida
Perdera o limite entre a loucura e a lúcidez
Oscilava entre ambos.
Nun instante saiu do transe em que se encontrava
Com fome, alimentou-se da comida
Qua amanhecida estava
E sobretudo, fuçada pelo seu companheiro.
Agia como se nada mais importasse
Já passara e ainda passava
Por situações piores, inimagináveis.
Descalça agora caminha
Sempre na companhia
De seu único amigo inseparável
Ou, pelo menos enquanto tiver
Restos de comida estragada para lhe oferecer.
O cachorro, a mulher...
Comparação estarrecedora.
Leticia Duns
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Para uma breve análise:
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O bicho
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Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade. O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato. O bicho, meu Deus,
era um homem.
Manuel Bandeira

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