terça-feira, 14 de setembro de 2010

Querido Amigo L, R.A.E - 1969


Querido amigo, senti vontade de dizer-te quanta paz tua paz me transmite e de quanta esperança um sorriso teu me enche o peito.

Certa vez, uma vontade de igual tamanho cercou minha mente, mas tu não estava por perto para que minhas poucas palavras pudessem ditar meus pensamentos vagantes à tua eterna procura. Era noite e, deitado em minha cama (essa que a mim é eterna) olhando para o teto (este que que me é tão baixo), via letras flutuando pelo ar e formulando ora palavras avulsas, ora frases aparentemente sem nexo mas que, desde aquele momento, minavam de meu corpo.

Se de palavras a esperança se compõe e de tu me vem tais palavras, não é ousadia minha dizer que tu, oh composição perfeita, és poesia livre em meu mundo, mente, corpo.

Mas se minha mente lança-te ao ar de meu teto tão embaraçosa e indecifravelmente, concluo que tu, oh palavra mandante és senão, fruto deste meu corpo doentio que se desfaz sem o teu. É lamento neste quarto que a projeta sem decodificações, é murmúrio quando nota que as palavras são mudas, o negrume do quarto é translúcido e a intenção é cega.

Senti vontade de dizer-te quanta paz teu silêncio mórbido transmite e quanta esperança tua alma viva me enche o corpo inerte.



Leticia Duns